Page 69 - Para além do tempo... - 7º ano 2023
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pelos bisnetos dos donos. No entanto, graças a um processo que
ganhamos, conseguimos permanecer em nossa terra. Também
sofremos com enchentes, mas nunca com deslizamentos. Na pandemia,
tivemos apenas alguns casos de pessoas com o coronavírus; porém,
houve um morto.
Chega de coisas ruins, vamos mudar de assunto, que tal falar
sobre o nosso restaurante, nosso artesanato, nossa cultura e o
quilombo? Plantamos nossa própria comida para a nossa sobrevivência
e o nosso comércio, pois temos um restaurante que serve uma deliciosa
feijoada. Vendemos cestas, tambores e mais outras peças artesanais.
Com essas duas atividades, geramos nossa renda.
Um dos nossos passatempos é o jongo, que é uma dança
acompanhada de tambores e músicas. Essa é uma forma de
homenagear nossos antepassados, fixar nossas tradições e afirmar a
nossa identidade. Para nós, muitas coisas são motivo de celebração;
então, comemoramos muitas datas. As religiões existentes em nossa
comunidade são a evangélica, a católica e aquelas tradicionais de
matriz africana.
Nossa condição de vida no quilombo não é ruim, temos acesso ao
saneamento básico e, além disso, nossas escolas são boas, inclusive,
um dos estudantes do quilombo conseguiu entrar em uma universidade
na cidade.
Também sobre o quilombo, um de nossos membros, o Ronaldo
dos Santos, conseguiu assumir um cargo no Ministério da Igualdade
Racial. Foi elaborada uma reportagem sobre isso. Estou muito
orgulhosa de nosso povo.
Como estou mandando essa carta a você, Martim, que vive no
Centro Histórico de Paraty, gostaria de saber algumas coisas: como são
as casas, os eventos, o modo de vida aí? Soube que você é muito bom
em videogames, algo que meus netos adoram e brincam o tempo todo e
eu não entendo nada. Então, convido você para vir aqui e, talvez, provar
a nossa feijoada, jogar alguns jogos ou tomar uma cerveja com meu
filho e falar sobre futebol. Espero também poder lhe visitar,
Abraços,
Zuri
( Manuela Avelar Coitinho e Larissa Rye Tsuda)