Page 68 - Para além do tempo... - 7º ano 2023
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DE: Zuri Moyo, 87 anos, quilombo do Campinho.
               PARA: Martim Silva dos Santos, Centro Histórico de Paraty.



               Paraty (quilombo do Campinho), 4 de agosto de 2023.



                                                                                      Prezado Martin,


                       olá, tudo bem? Sou a Zuri Moyo, do quilombo do Campinho da

               Independência. Sou a griô de lá. Ser griô é difícil, pois representamos
               muitas pessoas e precisamos fazer boas escolhas, pensando no que é
               bom para a nossa coletividade. Tento sempre ouvir opiniões, críticas de
               moradores do quilombo, realmente me esforço. O que mais quero é que

               todos do quilombo tenham uma melhor condição de vida. Não sei se
               você sabe: griô é um contador de histórias orais, que são passadas de

               uma geração para outra.
                       Outras informações sobre mim são que tenho 87 anos, sou
               descendente de moradores que acreditam que seus antepassados são
               da Angola, tenho cabelos brancos e curtos, olhos marrons escuros.

               Moro com meus dois filhos e meus três netos. No quilombo, dizem que
               sou uma boa líder, inteligente, bondosa, entre outras características.
               Também falam que sou, às vezes, ambiciosa e convencida, mas o que

               fazer? Ninguém é perfeito. Adoro a feijoada do restaurante do quilombo,
               ela é uma delícia. Gosto de cozinhar, é um ótimo passatempo para mim,
               quando, às vezes, estou triste, faço isso.

                       Algo que sei fazer muito bem é jogar baralho, até ganhei uma
               competição que teve aqui no quilombo. Também leio todo domingo para
               as crianças daqui.

                       Uma de minhas amigas é a Nala, que é uma cozinheira do
               restaurante existente no quilombo. Ela é uma companheira incrível, que
               ama acarajé.
                       Estou aqui para lhe contar sobre o nosso quilombo e não sobre

               mim. Vamos começar pela nossa origem. O quilombo foi criado por três
               mulheres ex-escravizadas, uma delas tinha proximidade com um de
               seus donos e, quando a terra não servia para nada a eles, deram o

               terreno para a moça, que lá criou a comunidade. Atualmente, abrigamos
               150 famílias e 600 pessoas, somos uma sociedade matriarcal. Mas
               passamos por muitas coisas, quase tivemos nossas terras tomadas
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