Page 7 - Para além do tempo... - 7º ano 2023
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DE: Anori, 18 anos, centro histórico de Paraty.
               PARA: Clenisvaldo Ercílio, aldeia Boa Vista.



               Paraty (Centro Histórico de Paraty), 15 de abril de 2023.



                                                                                     Olá, Clenisvaldo!


                       Oi, eu sou o João, mas meu nome verdadeiro é Anori. Para você

               entender melhor, vou lhe contar a minha história.
                      Eu nasci em uma aldeia indígena, em Ubatuba, na qual todos se
               conheciam e todos eram amigos. Um dos meus passatempos preferidos
               era atirar com arco e flecha. Teve um dia, há muito tempo, em que

               nossa aldeia e a vizinha se desentenderam e começamos a atacar uns
               aos outros. Nessa época, convocaram-me para batalhar e eu fui, mas

               acabei tomando um forte golpe na cabeça e desmaiei.
                     Após a batalha acabar, algumas pessoas me encontraram em uma
               praia e me levaram para a casa delas no Centro Histórico de Paraty.
               Essas pessoas me adotaram e seus nomes são: Adélia e Alexandre,

               além do meu melhor amigo, Ozzy, o cachorro da minha família.
                    Um tempo depois, eu acordei em um quarto com minha “mãe”
               surpresa, perguntando-me se eu estava bem e, como na minha aldeia

               aprendemos a língua portuguesa, eu a entendi e respondi que estava
               bem, mas meio tonto e sem lembrar de nada do que tinha acontecido.
               Então, ela perguntou meu nome e eu não soube responder. Ela se

               surpreendeu, pois nunca tinha visto alguém que tivesse se esquecido de
               seu próprio nome, por isso, disse que deveríamos batizar-me de novo.
                       No começo, estranhei um pouco, mas depois gostei da ideia,

               então, ela me sugeriu o nome de João e eu concordei. Depois dessa
               pequena conversa, fui dormir e, no dia seguinte, fomos ao médico
               enquanto meu “pai” trabalhava, para ver se eu estava bem. Fiz alguns
               exames e o médico falou que eu não tinha nada.

                    Voltamos para casa e já era noite. Eu estava muito cansado e fui
               dormir. No outro dia, eu acordei muito mal e não conseguia sair da
               cama, então, minha “mãe”, preocupada comigo, levou-me novamente ao

               médico, refiz os exames e descobriram que eu tinha uma doença, que já
               era antiga, mas ainda não tinha sido identificada. O médico me receitou
               alguns remédios e eu estranhei, porque o remédio vinha em uma
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