Page 16 - Para além do tempo... - 7º ano 2023
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DE: Zulu NKrumah, 27 anos (quilombo do Campinho, Paraty).
PARA: Caramuru (aldeia Boa Vista, Ubatuba).
Paraty (quilombo do Campinho), 18 de agosto de 2023.
E aí, Caramuru? Que saudades, acho que faz um ano que não nos
encontramos, né? Venha novamente ficar na minha casa, em janeiro,
para o Festival de Verão, que íamos todo ano. Aliás, você se lembra de
quando fomos neste festival, há três anos, em que você me apresentou
Lueji? Ainda estamos namorando e estou pensando em pedi-la em
casamento.
Em nome do quilombo, peço desculpa pela briga do ano passado,
fiquei com saudade de você e de nossa amizade, espero que aceite o
meu pedido.
E para acabar com essa briga, convido-lhe para almoçar no
restaurante de feijoada no nosso quilombo, só uma coisa que digo: a
comida é maravilhosa, por conta disso, meu prato preferido é feijoada.
Qual é o seu prato favorito?
Sabe aquele sonho que eu te contei de ser professor? Eu,
finalmente, consegui meu emprego dos sonhos: comecei dar aula de
educação física para crianças quilombolas nas séries primárias. O que
mais me alegra é perceber que elas vão ter um futuro melhor. Na minha
época, o ensino não era tão bom, aprendemos somente as coisas
básicas.
Além de mim, vejo outros professores também se esforçando para
garantir o futuro dos estudantes, isso me faz muito feliz.
Eu posso lhe convidar para me ver jogar futebol aqui e, depois,
nós poderíamos fazer um churrasco na minha casa, inclusive, quando
fui morar com Lueji, mudei-me para uma outra casa e adotei três
cachorros: Alvin, Simon e Theodore (nós dois amamos “Alvin e os
esquilos”). Você gosta de animais? Você tem algum?
Se não me engano, ainda não lhe falei a história do nosso
quilombo! Perto do fim da escravidão, um fazendeiro português comprou
três moças que tinham entre 10 e 15 anos, todas da mesma família.
Seus nomes eram Antonica, Maria Luiza e Benedita. Elas eram duas
irmãs e uma prima. Com a abolição da escravidão e pelo fato de a terra