Page 14 - Para além do tempo... - 7º ano 2023
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DE: Yakecan Itiberê, 24 anos, aldeia Boa Vista (Ubatuba).
PARA: Leonor Mansu Oliveira, 21 anos, centro histórico de Paraty.
Ubatuba, 18 de agosto de 2023.
Prezada Leonor Mansur Oliveira,
Você já me conhece um pouco, mas irei me apresentar. Sou
Yakecan Itiberê e moro em uma aldeia indígena chamada Boa Vista.
Nasci no dia 11 de setembro de 1999, ou seja, tenho 24 anos. Vivo com
minha esposa, Ana, que morava no centro de Ubatuba, até que ela
largou tudo que possuía para viver seu verdadeiro amor comigo onde
resido, na aldeia Boa Vista, também em Ubatuba. Atualmente, ela é
artesã e tem 25 anos. Também vivo com meu filho, Moacir, que tem 7
anos e está no segundo ano do Ensino Fundamental 1. Ele é um menino
muito carinhoso, que amamos muito.
Gostaria de falar sobre a aldeia em que resido. Ela não é tão
modernizada, possui saneamento básico precário e é muito rica em
cultura. A história da aldeia é a seguinte: em 1662, os nossos
antepassados conseguiram fugir da escravidão e seguiram direto para
uma montanha com uma vista magnifica. Lá, eles começaram a
construir uma sociedade independente, que sobrevivia de sua própria
maneira. Em seguida, criaram um sistema único de moeda, língua e
engenharia. Meu antepassado, Caíque, foi o primeiro pajé da tribo
indígena e foi passando nossos costumes para seus descendentes.
Atualmente, nossa aldeia é muito visitada, principalmente, por
estudos do meio de alunos da capital do estado. A visita que mais nos
marcou foi a do colégio Santa Clara, que tem alunos muito gentis. Com
essas visitas, muitas pessoas da nossa aldeia estão ficando mais
modernas e aqui até existem crianças que já ganharam ou compraram
celulares.
Outro fato interessante é que possuímos um time de futebol, que
já disputa campeonatos e consegue ganhar alguns troféus.
Na nossa aldeia, nós temos um costume que, após três noites de
recolhimento em uma casa de reza, os pajés e os homens da aldeia
fumam o cachimbo da paz. Na última noite, por volta das quatros horas