Page 108 - Para além do tempo... - 7º ano 2023
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DE: Rogério da Silva, 67 anos, quilombo do Campinho.
               PARA: José Gonçalves, 25 anos, Centro Histórico de Paraty.



               Paraty (quilombo do Campinho), 18 de junho de 2023.



                                                                               Olá, José Gonçalves!


                       Lembra de mim, seu amigo de sete anos atrás, Rogerio da Silva?

               A gente trabalhava no mesmo restaurante, o Vila do Quilombo, em 2013.
               Ia começar a Copa do Mundo, mas aconteceu aquilo, enfim, estou muito
               alegre que encontrei sua localização e, agora, podemos nos ver de
               novo, faz dois anos que nós não nos vemos, espero que se lembre de

               mim, o Rogério da Silva, seu amigo.
                       Lembro-me de um dia em que veio um grupo gigantesco de

               pessoas para comer e nós estávamos tentando inventar uma sobremesa
               usando o guaraná. Tinha tantos turistas de todos os lugares, sendo que
               alguns até falavam outras línguas, como inglês, português de Portugal,
               árabe, chinês, francês, teve até esperanto. Eram cerca de quarenta

               pessoas e vimos muita gente. Cada indivíduo era diferente do outro, era
               bem legal ver diferentes jeitos culturais, principalmente, para mim, já que
               trabalhei lá uns 45 ou 40 anos e, até então, nunca tinha visto pessoas

               tão diferentes.
                       Lembro do tempo que você tinha curiosidade com os turistas que
               vinham, às vezes, tinham muitos deles a cada semana, quantos não sei,

               mas tinha de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais. Por causa dos
               sotaques, às vezes, nem dava para entender o que era falado.
                       Mas, quero fazer uma pergunta, poderia me mandar um lugar para

               nos encontrarmos e conversarmos? Não sei onde, possivelmente na sua
               casa, em um restaurante ou em uma praça? Estou com muita saudades
               de você. Até hoje, eu lembro de tudo que a gente passou. Lembro que
               vimos a Copa do Mundo, comemos minha feijoada, que era de matar de

               boa e, inclusive, posso fazer uma de presente para você, sei que era
               sua comida favorita. Podemos jogar bola. Posso até estar velho, mas
               treinei bastante para conseguir jogar com você, sei que gosta de futebol.

               Eu, hoje em dia, estou bem solitário e, depois que nos separamos,
               nunca mais tive vontade de considerar alguém melhor do que você.
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