Page 137 - "Enganando a Morte - Contos de quem tentou fugir do destino", do 6º ano (2024)
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Certo dia, uma cliente mais antiga de Clarinha chegou em sua
fazenda e disse:
— O Clarinha, tá tudo bão?
— Ai amiga, tô sim, e ocê?
— Tô bem, uai. Me vê dois porcos?
— Claro, uai! Deu 120 contos.
— Ai Clarinha, sabe o que é, esqueci minha carteira em casa. Aqui
no bolso só tenho 20 contos. Posso te pagar depois?
– Mas é claro, ocê é de confiança. Depois ocê paga.
Passaram algumas semanas e a mulher não voltou mais para pagá-la.
E era assim quase todas as vezes, mas não foi só com aquela mulher, e
sim com a maioria dos compradores. Iam e não voltavam mais.
Num certo dia, Clarinha estava cuidando de sua fazenda, limpando
os porcos, regando os vegetais e recolhendo os ovos das galinhas, até que
se deparou com um ovo muito estranho. O ovo era dourado, e ao pegá-
lo, caiu no chão e quebrou. Ao quebrar, o ovo não tinha uma gema e uma
clara como todos, e sim um papel escrito: “Faça um pedido e queime este
papel logo depois”. Sem acreditar muito, meio desconfiada se daria certo,
Clarinha fez o que o papel mandou. E o seu pedido foi: quem não pagasse
pelo porco que comprou, se tornaria um.
Até que um dia, uma mulher estranha, de capa preta, foi à fazenda
de Clarinha, fingindo querer comprar um porco. E disse:
— Clarinha, chegou a sua hora de morrer, vamos?
— Uai, mas já? Eu tô tão bem.
— Vamos! - disse a Morte.
— Deixa eu fazer só um pedido para ocê, por favor? Pegue um
porco, diz que vai me pagar e não me pague.
A Morte, sem muita paciência, foi lá e fez. E assim virou uma porca.
Muito irritada, a Morte disse:
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