Page 56 - (Re)bolar a História
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Sobre minha vida
Caro(a) leitor, vim contar sobre minha inspiradora história de vida. Meu nome
é Maria Esther de Camargo Lara. Nasci em Pirapora do Bom Jesus, cidade do
Estado de São Paulo, no dia 2 de maio de 1924. Tive meus três amados filhos com
José Vaz de Almeida. Sou uma mulher vaidosa e guerreira. Lutei contra o machismo
e a favor do samba paulista, sempre em busca de preservar essa cultura.
Desde pequena, eu gostava de frequentar as rodas de samba e essa paixão
permanece até hoje, mas meu pai não gostava que eu participasse desses eventos,
por conta do machismo. Ele me castigava. Mas não desisti. Saía escondida de casa
e era acolhida pela minha mãe, que me estimulava a praticar a música e a dança.
Participei da fundação das primeiras escolas de samba, a “Lavapés” e a “Vai-Vai”,
com minha amiga Eunice e Geraldo Filme. Esse nosso amigo ajudou-nos a fazer os
versos improvisados que deram origem à composição “Samba de Pirapora”. A
escola Lavapés tornou-se um símbolo do carnaval paulista.
Tenho várias frases que exalam a minha personalidade, mas minha preferida
é “idade não regula, o que importa é o rebolado”.
Em Pirapora, houve a permanência da cultura imaterial do Samba Paulista de
origem dos escravizados. Perto da igreja central, os escravizados faziam eventos,
como a umbigada, enquanto os donos de fazendas iam à missa. Mesmo com
aquele tempo difícil, os escravizados conseguiram manter suas tradições, que estão
conservadas até os dias atuais.
Eunice era filha de ex-escravizados e ajudou muito a preservar sua
ancestralidade. Foi a primeira mulher negra e sambista. Com espírito independente,
não se submeteu a qualquer pessoa que quisesse controlar a sua vida. Nascida em
Piracicaba, foi uma das grandes guerreiras pela manutenção do samba e das
origens afrodescendentes. Aos doze anos mudou-se para a capital paulista, para o
bairro da Liberdade. O nome do bairro tem a ver com ela e sua família, pois o termo
“liberdade” foi usado porque seus pais participaram da luta pela “liberdade dos
escravizados”. Lembro-me que ela foi apelidada de “Madrinha Eunice”, pois ela
batizava várias crianças.
Com isso, pensei na cidadania planetária e na Aretha Duarte, que é uma
grande mulher, uma inspiração para a vida. A cidadania planetária é o pensamento
em que o planeta Terra é a única comunidade em que todos os indivíduos têm o
dever de cuidado e responsabilidade para com a sua preservação, o bem-estar e a
sustentabilidade da vida, trazendo um ambiente mais sustentável e saudável para a
nossa convivência no planeta.
Aretha Duarte é uma mulher que luta contra o machismo e o racismo. Foi a
primeira mulher negra brasileira a escalar o Monte Everest, na Ásia. Isso aconteceu
em 2021, ano em que ela completou 37 anos. Veio da periferia, sempre lutou e
ensinou a confiar em seus sonhos e tem uma relação muito forte com o planeta e a
cidadania planetária, pois era catadora de materiais recicláveis. Priorizou o meio
ambiente. Tinha um sonho: escalar o monte Everest, na Ásia. Pensou, muitas
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