Page 28 - Para além do tempo... - 7º ano 2023
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DE: Francisco de Orleans e Bragança, Centro Histórico de Paraty.
PARA: Robson Pereira, quilombo do Campinho.
Paraty, 25 de setembro de 2023.
Estimado Robson,
Bom dia! Chamo-me Francisco de Orleans e Bragança, tenho 21
anos, sou descendente da família real brasileira. Tenho cabelo castanho
e curto, olhos verdes escuros e um bigode um tanto quanto ousado. Sou
magro, não sou fã de atividades físicas; ao invés disso, prefiro sentar na
varanda e ler um bom livro, além de contemplar, é óbvio, minha linda
cidade com traços coloniais. Sou o típico garoto estudioso, mas não
muito de ficar me gabando, não faço faculdade, porém penso em fazer,
no futuro, o curso de Direito. Eu nasci em Paraty e aqui vivo até hoje.
Até que gosto de viver aqui, minha casa é grande, bonita e bem retrô
(estilo desatualizado), ela é bem conhecida na região, já que é a casa
da antiga família real do Brasil e, por isso, acostumei-me com turistas e
estudantes tirando fotos e admirando minha residência. Gosto de Paraty,
mas confesso que a ideia de me mudar para uma cidade grande fica
remoendo em minha cabeça.
Tenho alguns amigos, sinto que não consigo ter relações mais
aprofundadas e duradouras com as pessoas. Os colegas que tenho, eu
conheci na igreja que frequento, a de Santa Rita. Aqui no Centro
Histórico não faltam capelas. Lá na igreja de Santa Rita, fui apresentado
à Eloá, uma humilde mulher que necessitava de um recomeço quando a
conheci. Ela devia ter uns 19 anos e era descendente quilombola,
quando a vi consegui sentir o tom de tristeza que ela passava. Sua
beleza genuína foi capaz de prender a minha atenção e, assim, tomei
coragem e, sem pensar muito, a convidei para sair neste mesmo dia.
Desde esse dia, sinto que encontrei a minha outra metade. O que não
achei em meus longos 21 anos de vida, encontrei em uma única noite.
Agora, conheça minha casa.