Page 119 - E se aquele quadro virasse um conto? Contos Populares, 6ºs anos 2022.
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A macieira da velha


            POR CRISTINA MENEZES CARLETTI



                Dona Benta era uma mulher que tinha poucos anos de vida, mas,
            por sempre bisbilhotar e escutar sobre a vida alheia dos moradores de sua
            vila, sabia de tudo. Por conta disso, era malandra e sorrateira. Sabia como
            enganar  e  se  livrar  das  maiores  e  menores  confusões. Pensa  em  uma
            mulher esperta?! Ela tinha sua rotina de relaxamento e observação, na
            qual sentava na cadeira de balanço em frente da janela de sua varanda,
            tomava seu chá de ervas e, como tinha boa audição, escutava os ocorridos
            do dia. Como sempre, seu marido e seus compadres discutiam perto à
            varanda,  onde  ficava  Benta,  sobre  os  acontecimentos.  Normalmente,
            nada demais, porém, a fofoca do dia, desta vez, a interessou e ela logo se
            meteu na conversa:

                - A velha que se mudou pra esses lados é rabugenta demais da conta!
            - dizia um.

                - E ocês sabiam que ela tem uma macieira sempre carregada e mesmo
            assim num dá nenhuma maçã pra ninguém? Nem pros cães de guarda
            que ela tem pra proteger sua fazenda?! - falava outro.

                E foi cada um falando o que ouviu sobre a velha, uns dizendo coisas
            piores que os outros sobre ela. Logo, se intrometendo, Benta fez uma
            aposta com os compadres de seu marido:
                - E ocês querem apostar que eu tiro dessa velha um monte de maçãs
            e de bom grado? - perguntou ela, com confiança na voz.
                Até fazerem um acordo, o marido de Dona Benta já tinha saído de
            vista, para não sobrar para o coitado. Apostaram uma quantia grande de
            dinheiro, pois todos tinham certeza de que iam ganhar da malandra. Ela
            tinha apenas dois dias para cumprir o desafio.
                Assim,  no  dia  seguinte,  lá  se  foi  Bentinha,  já  com  seu  plano  na
            cabeça. Juntou farinha e água, pegou um prato e amarrou em uma trouxa.




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