Page 109 - E se aquele quadro virasse um conto? Contos Populares, 6ºs anos 2022.
P. 109

A cozinha caipira e o ladrão de comida

            POR ALICE ALCANTARA VOLPINI



                Certa vez, no sertão da roça, José Malandro, um homem bom, com
            fome e sem nenhum tostão no bolso, andava por uma rua de terra. Tarde
            da noite, a fome do Malandro aumentou e, de repente, seu nariz sentiu
            cheiro de comida boa, arroz soltinho e feijão. Ele foi seguindo o perfume
            até que se deparou com o restaurante de cozinha caipira, um lugar de
            comida  gostosa,  mas  com  uma  cozinheira  nem  um  pouco  paciente;
            mesmo sendo religiosa e com terço no pescoço, não segurava a raiva e só
            tinha medo mesmo era do chifrudo com rabo.
                José Malandro entrou e viu todas as comidas. Logo colocou a mão
            na  colher  e  pegou  seu  prato,  mas  tomou  uma  frigideirada  da  dona
            rabugenta que o chutou com toda sua força e gritou:

                - Seu vermeiro de cuspe, ocê num me entre nunca mais em meu
            restaurante!!

                O pobre coitado foi de olho roxo para sua morada e teve a brilhante
            ideia de se vingar, vestindo-se de chifrudo com rabo, pois dona rabugenta
            tremia de medo do bicho. Para isso, ele usou lascas de madeira, folhas de
            árvore e lama dos porcos.
                Quando  aquela  dona  rabugenta  chegou  ao  restaurante,  viu  uma
            sombra escura se aproximando dela e gritou de raiva:
                - Seu caipira nujento, vai se embora, sô! -gritou a mulher, emburrada.
                Ao olhar, viu um pescador; ficou até com vergonha e se desculpou.
            A cozinheira voltou a limpar a cozinha, até que ouviu um barulho e logo
            imaginou ser o José Malandro e correu para dar um grito e mandá-lo
            embora. De repente, se deparou com o chifrudo com rabo e correu até o
            filho, que, já com medo, falou:
                - Mainha, tô morrendo de medo do que ocê vai falar pra mim!






                                          107
   104   105   106   107   108   109   110   111   112   113   114